24 junho, 2025

“Escrevo-te estas mal traçadas linhas, meu amor.”

Num dia chuvoso, deparei-me comigo mesma, olhando o mar, com lágrimas nos olhos e uma imensidão de pensamentos. Deparei-me com aquela versão minha de 15 anos atrás, quando me coloquei num potinho — e fui me abrindo conforme a necessidade, conforme as pessoas, conforme as fases. 

Deparei-me com desejos e vontades deixados de lado pela fraqueza de não me colocar em primeiro lugar; pelo medo dos resultados que minhas próprias escolhas poderiam trazer. (As escolhas dos outros acabaram sendo piores, percebi nesse mesmo dia chuvoso.)

Deparei-me com decisões pouco lúcidas, causadas por um coração dilacerado pela solidão. Deparei-me com tantos anseios pelo futuro que me perdi naquele presente que virou mesmice. Deparei-me agora com esse vazio — causado por todas as escolhas que não fiz, por todas as felicidades que deixei passar. Deparei-me agora com lágrimas de momentos não vividos. 

E por que isso se repete tanto? Por que eu sempre saio desse potinho e me moldo ao momento, às pessoas, ao que esperam de mim? 

No outro dia fazia sol. O mar era o mesmo. Mas as lágrimas e os pensamentos, não. Eu sabia: tudo isso não era culpa de fulano, sicrano ou de quem quer que fosse. A culpa era minha — por sentir que esse segundo plano era confortável demais para mim. Só que hoje eu percebo que isso não me protegeu — só me afastou de mim. 

Talvez o segundo plano seja um lugar seguro para quem aprendeu cedo que brilhar pode dar medo. Mas entendo agora que não sou mais aquela menina no potinho. E talvez, pela primeira vez, eu esteja disposta a me colocar na cena inteira — não como figurante, mas como protagonista da minha própria história.  

20 agosto, 2022

que o que não foi, não é!

te escrevo para pôr um ponto, 
um ponto que você já havia colocado,  

por cima do meu de interrogação naquela noite. 

 

te escrevo para decretar um fim, 
aquele parecido com o que você me disse nessa mesma noite. 

 

te escrevo para vir o grito, o alivio, e o último suspiro 
do nosso presente amor que já se fez tão ausente. 

 

te escrevo para pôr um ponto, 
nas tristes esperanças, nos tristes questionamentos, 
no amor que sinto por você. 

 

te escrevo para te desejar muito amor, 
ai e agora, mas nunca será parecido com o que tivemos um dia. 
 

te escrevo para acalmar a tormenta, 

naquele turbilhão que chamamos tanto de vida.

 

te escrevo para vir o silencio,  

depois de tantos gritos que você não chegou a ouviu, 

depois de tantas lagrimas que você não chegou a secar. 

 

te escrevo para poder te reencontrar, 
em outras esquinas, em outras fases, em outras vidas na verdade. 

 

te escrevo, na verdade, para dizer que guardei o nosso amor aqui dentro, 

no meu potinho de lembranças que fica no meu coração! 

 

te escrevo também para agradecer por ter me dado o mundo

e dizer que te perdoou por ter me tirado ele!

sam.