24 junho, 2025

“Escrevo-te estas mal traçadas linhas, meu amor.”

Num dia chuvoso, deparei-me comigo mesma, olhando o mar, com lágrimas nos olhos e uma imensidão de pensamentos. Deparei-me com aquela versão minha de 15 anos atrás, quando me coloquei num potinho — e fui me abrindo conforme a necessidade, conforme as pessoas, conforme as fases. 

Deparei-me com desejos e vontades deixados de lado pela fraqueza de não me colocar em primeiro lugar; pelo medo dos resultados que minhas próprias escolhas poderiam trazer. (As escolhas dos outros acabaram sendo piores, percebi nesse mesmo dia chuvoso.)

Deparei-me com decisões pouco lúcidas, causadas por um coração dilacerado pela solidão. Deparei-me com tantos anseios pelo futuro que me perdi naquele presente que virou mesmice. Deparei-me agora com esse vazio — causado por todas as escolhas que não fiz, por todas as felicidades que deixei passar. Deparei-me agora com lágrimas de momentos não vividos. 

E por que isso se repete tanto? Por que eu sempre saio desse potinho e me moldo ao momento, às pessoas, ao que esperam de mim? 

No outro dia fazia sol. O mar era o mesmo. Mas as lágrimas e os pensamentos, não. Eu sabia: tudo isso não era culpa de fulano, sicrano ou de quem quer que fosse. A culpa era minha — por sentir que esse segundo plano era confortável demais para mim. Só que hoje eu percebo que isso não me protegeu — só me afastou de mim. 

Talvez o segundo plano seja um lugar seguro para quem aprendeu cedo que brilhar pode dar medo. Mas entendo agora que não sou mais aquela menina no potinho. E talvez, pela primeira vez, eu esteja disposta a me colocar na cena inteira — não como figurante, mas como protagonista da minha própria história.  

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'E que depois de me ler você consiga tudo aquilo que ainda sonho' Sam Sousa