Sobre a ausência das palavras

O cinzeiro cheio, a xícara pela metade, as estrelas brilhando 
e no ar a ausência das palavras.

Papeis rabiscados com escritas mal feitas, sentimentos estragados, corações chorando e pedindo socorro. Vontades e vontades. Mãos tentando escrever algo que querem, que sentem falta, ou que nem sentem. Mas as palavras andam fugindo. Encontraram um esconderijo, uma proteção para não serem decifradas.

Me deixaram com as mãos livres, a cabeça pesada e com a vontade de escrever mil coisas ao mesmo tempo - coisas que falam de casais apaixonados, de mim, de você, de amores e desamores; coisas que fazem os olhos brilharem, o sorriso se abrir, e a pele se arrepiar de tanta emoção; coisas inventadas, que soam clichês, mas que não deixam de emocionar uma alma frágil; coisas que andam me preocupando, me ocupando. Me dilacerando.

A xícara cheia, o cinzeiro vazio e quase um nascer do sol, tempo gasto em nada. Apenas para o acumulo de memorias e vontades. Quando as estrelas abrirem os olhos tentarei de novo, e de novo. Nem que eu veja o sol nascer centenas e centenas de vezes.