23 dezembro, 2013

Reticências.


Entrei, sentei na mesa mais escura daquele bar sem graça, pedi a bebida mais forte ao garçom, acendi meu cigarro e a porra da música que eu evitava ouvir a semanas começou a tocar. Um estranho sentou-se ao meu lado, e perguntou:

- Tá na fossa, querida?
- A vida é uma fossa meu caro, estamos sempre sujos.
- Então, um brinde as merdas das nossas vidas!

 Perguntei se nos conhecíamos... "de outras vidas, quem sabe", ele me respondeu. 
Era um rapaz misterioso, deliciosamente misterioso.

- A vida é cheia de surpresas, moça.
- E de armadilhas também.
- E assim a gente vai vivendo...
- E se fudendo, e olha que não é de sexo que eu tô falando.

Rimos, meio embriagados e totalmente indignados com ambas as vidas, se perguntando se havia algum modo de se desviar de tantos escombros, de tantos amores mal/não vividos, de sonhos apenas sonhados, de pesadelos se tornando realidade, de tantos tormentos que poucos anos de vida nos haviam proporcionados. Riamos da nossa solidão, riamos dos nossos gostos desconhecidos que de alguma forma se encaixavam perfeitamente, riamos dos bêbados caindo ao lado do banheiro, riamos da gente, e das merdas de nossas vidas. 

"A vida é cheia de surpresas", ele sempre insistia.

[...]

2 comentários:

  1. - A vida é cheia de surpresas, moça.
    - E de armadilhas também.

    É bem isso mesmo. Pelo menos a personagem encontrou alguém com quem pudesse rir de si mesma e rir do que provavelmente a faria chorar. Muito bom esse texto, gosto de cenas montadas assim, sem antes e com muitos depois esperados, inventados, realizados ou não... Meche com a imaginação da gente.

    Beijão, querida e um Feliz Natal!

    eraoutravezamor.blogspot.com
    semprovas.blogspot.com

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    Respostas
    1. Essa vida... rs
      Tbm gosto assim, cenas diretas, que mexem com a imaginação.

      Beijão moça, obg e um belo 2014 pra vc!
      ;*

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'E que depois de me ler você consiga tudo aquilo que ainda sonho' Sam Sousa